terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Fanatismo

Texto de Florbela Espanca
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…

Nocturno

Texto de Florbela Espanca


Amor! Anda o luar, todo bondade,
Beijando a Terra, a desfazer-se em luz…
Amor! São os pés brancos de Jesus
Que anda pisando as ruas da cidade!
E eu ponho-me a pensar… Quanta saudade
Das ilusões e risos que em ti pus!
Traças em mim os braços duma cruz,
Neles pregaste a minha mocidade!
Minh’alma que eu te dei, cheia de mágoas,
É nesta noite o nenúfar de um lago
Estendendo as asas brancas sobre as águas!
Poisa as mãos nos meus olhos, com carinho,
Fecha-os num beijo dolorido e vago…
E deixa-me chorar devagarinho…

O maior bem

 Texto de Florbela Espanca.


Este querer-te bem sem me quereres,
Este sofrer por ti constantemente,
Andar atrás de ti sem tu me veres
Faria piedade a toda a gente.
Mesmo a beijar-me, a tua boca mente…
Quantos sangrentos beijos de mulheres
Pousa na minha a tua boca ardente,
E quanto engano nos seus vãos dizeres!…
Mas que me importa a mim que me não queiras,
Se esta pena, esta dor, estas caseiras,
Este mísero pungir, árduo e profundo,
Do teu frio desamor, dos teus desdéns,
É, na vida, o mais alto dos meus bens?
É tudo quanto eu tenho neste mundo?

Alecrim

Entranhas reviradas, um buraco no coração
Uma lembrança mal organizada, uma estrada de ilusão
Uma falta destrutiva, que me leva ao desespero
É como uma ferida escondida, que surgiu logo cedo
Luto intensamente, não quero ceder a esse desejo
Não me permito sentir falta, pois o que não é meu, não me cabe

Sorrio fortemente em tua presença,
Jamais poderá saber o que causas em mim
Não me mostrarei indefesa, 
E sim majestosa como o rugido de um leão.

Mas mesmo assim não posso negar que
Sufocada é como me sinto
Quando me forço em ti não pensar
Mas sou forte de nascença, feito folhas de alecrim.

Posso sobreviver muito bem, sem tua presença junto a mim

Luana Duarte

domingo, 11 de dezembro de 2011

Tormenta.

Hoje eu acordei e senti falta de algo...
Talvez tenha sido das tuas palavras, 
do teu aconchego que quase sempre me recusei a aceitar
Cheguei até pensar que com a tua partida sorriria mais.

Triste engano
Percebi que com sua ida
Meus dias escureceram
E as flores murcharam

Te procuro em alguns detalhes
No lugar vazio à mesa
Sua xícara não está no lava louça
Seu humor não está a contagiar a casa

À noite, rezo aos céus
Espero um milagre
Sonho em despertar
E tudo voltar a normalidade

Te ter aqui
Te ver de longe a voltar para casa
Me chamando de pequena
Lendo meus poemas

Triste ilusão, não...
Hoje... Agora, vou deitar com tua imagem
Sei que vai me acalentar
Nesta longa noite de tormenta.

E vou dormir contigo em meus pensamentos
Quem sabe amanhã eu não acordo com te barulho?

Luana Duarte